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terça-feira, 27 de outubro de 2009
Partilha do 12° Intereclesial apresentada no Setor Pereira Barreto
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
O diálogo com os afro-descendentes, uma tentativa de reparar a história
Cheia de cor e axé, o babalorixá Hilton Veiga Monteiro recebeu aproximadamente 150 delegados do Intereclesial dispostos a conhecer o outro, ouvir e aprender com as práticas e espiritualidades locais. Tiveram ainda a oportunidade de aprofundar e adquirir novos conhecimentos, tirar dúvidas e mitos que alimentam o pré-conceito em relação às religiões afro-descentes. O pai de santo Hilton da casa Ile Ase Ogun Dajulekanque, acolheu os delegados com uma palestra sobre a origem do candomblé e respondeu às perguntas dos visitantes. Afirmou que o candomblé desde sempre defendeu o meio ambiente, por considerar que os orixás estão presentes nos quatro elementos da natureza (água, fogo, terra e ar). Quando questionado sobre a importância do 12° Intereclesial das CEBs, pai Hilton foi claro: "precisamos de união e este é um momento de união, de um só grito pela ecologia, pela natureza".
Hilton está no candomblé há 52 anos e há nove é pai de santo. Em entrevista revelou que a população brasileira desconhece as religiões e essa falta de conhecimento gera o pré-conceito. Ele se colocou à disposição para esclarecer aspectos da cultura.
Maria Aparecida, delegada amazonense da Prelazia de Lábrea estava presente na missão. Para ela "a Igreja está aceitando a realidade do povo, ela deve defender e valorizar o negro e sua cultura", afirmou. Disse ainda ver a CEBs como a uma porta de acolhida dos irmãos de religião afro-descendente para a Igreja Católica.
Para as visitas missionárias os delegados foram divididos em 11 grupos que se deslocaram para comunidades de povos indígenas, agrícolas, extrativistas, ribeirinhas, comunidades de ocupação, Casas de detenção, hospitais, Casa do Menor, bairros da periferia de Porto Velho, Casa de pessoas com deficiência e Casa de Recuperação de pessoas com dependência química.
CEBs convoca a juventude para a Missão
Mais fotos, no álbum do Sérginho.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
As CEBs em defesa dos Ecossistemas do Estado de São Paulo
A centenária Diocese de Campinas, não mediu esforços para bemacolher os delegados; o sorriso da juventude que recepcionava os ônibusna porta da Escola, o carinho das 1350 famílias de toda a região deCampinas, marcaram positivamente a participação dos 1373 delegados presentes no Paulistão.
Félix Manoel dos Santos, padre e Assessor das CEBs do Regional Sul1 da CNBB, afirmou que o Encontro tem três objetivos: construir aunidade do Estado de São Paulo e buscar sementes a serem plantadas nascomunidades de base; criar consciência do cuidado com o Ecossistema;preparar a participação do Regional no 12º Intereclesial, marcado parajulho de 2009, em Porto Velho, RO.
Concluídas as apresentações e objetivos do Paulistão, o professorde geografia agrária, Ariovaldo Umbelino, da USP, fez uma análise daConjuntura Geográfica do Estado de São Paulo, elencando suascaracterísticas peculiares e recordando o histórico das grandes áreasflorestais, trazendo à tona o problema da propriedade destas terras,que só foram demarcadas a partir da década de 80.
A necessidade da Reforma Agrária, a garantia da terra aos povosindígenas e a responsabilidade ambiental com a Terra e as Águas, foramtambém abordados pelo mestre Umbelino.
Na tarde do sábado, 19,os delegados se dividiram em 6 oficinas de trabalho: Reciclagem,Cuidado com o Solo Urbano, Águas e Matas Ciliares, SustentabilidadeAlimentar, Saneamento Ambiental e Reforma Agrária, destas oficinassaíram reflexões a serem transformadas em práticas nas comunidades, como objetivo de defender os Ecossistemas do Estado.
A presença da Mãe Mariama foi um momento marcante no Paulistão. Afim de fortalecer a caminhada dos participantes e iluminar as propostasde ação, os delegados se voltaram à Mãe pedindo sua benção e proteção. "NegraMariama chama pra lutar, em nossos movimentos sem desanimar. Levanta acabeça dos esfoliados, nossa companheira chama pra avançar".
A Praça Madeira Mamoré, em Porto Velho, foi o palco da abertura do 12° Intereclesial de CEBS.
Participam do Intereclesial representantes das comunidades eclesiais de base, engajados em movimentos sociais, em defesa da vida e da ecologia. Os Povos Indígenas também marcam presença no Intereclesial. “Acreditamos que unidos às CEBs estaremos mais fortalecidos. Viemos mostrar que nós existimos e resistimos, que nós somos a Amazônia, que nós somos o Brasil”, afirmou Maria Eva, do povo Kanoé, uma das lideranças indígenas de Guajaramirim, que fica há cerca de 300kilometros de Rondônia, na fronteira com a Bolívia.
Além do povo Kanoé, outros 37 povos articulados pelo CIMI – Conselho Indianista Missionário, se reuniram no dia 20/07, na Escola Municipal São Miguel, em Porto Velho, para divulgar a Campanha Povos Indígenas na Amazônia – Presente e Futuro da Humanidade. A Campanha foi lançada em Belém do Pará durante o Fórum Social Mundial e agora está em fase de divulgação, com um direcionamento mais político, enfrentando temas como o Estatuto dos povos Indígenas, mudanças em relação à estrutura pública e de saúde indígena.
Segundo seus organizadores, o objetivo da Campanha é sensibilizar a sociedade sobre a realidade sócio-ambiental e a experiência histórica dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. Denunciar as ameaças à vida dos povos da Amazônia, fortalecer e garantir os direitos territoriais e exigir a proteção da vida dos povos indígenas às autoridades competentes. Para Aroldo Pinto do Espírito Santos, uma das lideranças em Porto Velho, que defende os povos indígenas, o Intereclesial é um importante evento. “Precisamos mostrar a resistência diante destes grandes projetos, como o PAC, que estão aterrorizando, destruindo e desmatando. As principais vítimas são os povos indígenas. Esse é um espaço para mostrar seu grito e clamar por justiça”. Segundo Masson Norman Reis, do CIMI, já estão reunidos em Porto Velho os povos Anara, Cujubim, Tupari, Makurape, Nambikuara, Karitiana, Oro Warian Xijein, Xerente, Rikbaktsa, Kanoé, Munduruku, Oro Mon, Arap’um, Guarani, Pataxó, Jaboti (Djorometdi), Arikapu, Kulina, Oro Waje, Bororo, Cassupá, Kaxinawa, Wapixana, Terena eTupinambá, das regiões do Mato Grosso, Pará, Tocantins, Acre, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Roraima e Rondônia.
A Cerimôniade abertura foi também marcada pelos presença e pelo clamor dos povos indígenas, que se juntaram ao grito dos povos ribeirinhos, dos seringueiros, quilombolas e migrantes de todo o Brasil, que lutam por vida, justiça e respeito por suas escolhas, opções de vida e autonomia.
As CEBs tem papel fundamental nesta luta, respeita a diversidade cultural e religiosa destes povos da Amazônia e se une para conquistar os direitos já garantidos pela Constituição Federal e mais do que isso, pelo Criador.
** Estive em Porto Velho- RO como delegada da Região Episcopal Brasilândia, da Arquidiocese de São Paulo, Regional Sul 1 e como correspondente da Revista Missões.
A Colegiada se São Paulo se reúne e recebe dom Odilo
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Entrevista com Prof. Sérgio Coutinho - CNBB
Toda a Igreja precisa ser missionária, e para ser missionária precisa mexer nas estruturas. As Comunidades de Base ajudam a formar missionários para atuar de modo transformador na sociedade".
Sérgio Ricardo Coutinho é professor de Ciências da Religião da Universidade Católica de Brasília e atua principalmente com os temas: História da Igreja Católica, Concílio Vaticano II e Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. Como assessor nacional das CEBs, Coutinho tem auxiliado na preparação e metodologia de trabalho que será utilizada no 12º Encontro Intereclesial, que ocorrerá em Porto Velho, de 21 a 25 de julho de 2009.
Com o tema "CEBs: Ecologia e Missão", e o lema "Do Ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia", o 12º Intereclesial espera reunir aproximadamente três mil delegados, representando mais de 80 mil comunidades espalhadas por todo o Brasil. Com o objetivo de trocar experiências e renovar seu compromisso com a Igreja, durante os dias na Região Amazônica os delegados visitarão hospitais, Casas de Detenção e conhecerão como vivem os garimpeiros e indígenas. Terão ainda a oportunidade de ouvir testemunhos como o da senadora Marina Silva, de dom Pedro Casaldáglia e de dois prêmios Nobel: Rigoberta Mechú (Guatemala) e Desmond Tutu (África do Sul).
Em preparação para o Intereclesial, e para o encontro com toda esta realidade, a coordenação da Ampliada Nacional orientou a realização de dias de formação para os delegados de todo o Brasil. Em uma de suas assessorias, durante a formação dos delegados do Estado de São Paulo, realizada em Itatiba, nos dias 7 e 8 de março, Sérgio Coutinho concedeu entrevista à revista Missões falando sobre sua expectativa com relação ao 12º Interecleial e sobre as CEBs no Brasil.
Os enviados a Porto Velho estarão em meio às discussões em torno de conflitos agrários, aldeamentos indígenas e agressão à cultura dos povos locais, devastação da floresta, agronegócio e implantação de usinas hidrelétricas e barragens. O que se espera destes delegados, tendo em vista tamanha complexidade daquilo que irá se discutir e viver durante o encontro?
Nós acreditamos que eles sejam multiplicadores de informações que estão sendo debatidas aqui, no encontro em preparação para o Intereclesial, e que tragam de Porto Velho pautas para o dia a dia em suas comunidades. Se as lideranças comunitárias, ou seja, os delegados, puderem estudar o texto base sobre o tema da Amazônia já é uma forma de se criar consciência, de que maneira podemos interferir no processo político. Como estas lideranças são capazes de gerar uma opinião púbica, achamos que este seja um processo em rede, que vai alcançando o maior número de pessoas, lógico que não é a totalidade, mas ajuda em muito a tomada de consciência e postura diante da questão. Encontros de preparação ajudam na formação de uma opinião pública. Espera-se, portanto, que os delegados multipliquem as informações e sejam formadores de opinião, em suas comunidades.
Por que realizar o 12° Intereclesial na Amazônia?
O Intereclesial na Amazônia vai fazer com que as Comunidades sejam de fato Comunidades Ecológicas de Base, e que haja preocupação com a vida como um todo. A vida que envolve o planeta, o cosmo, a solidariedade com outros seres vivos, com a necessidade de pensar a terra como uma comunidade viva. A CNBB já fez uma Campanha da Fraternidade em 2007 sobre a Amazônia e isso sensibilizou muitos cristãos católicos a serem missionários na região.
O que esperar deste encontro nacional das CEBs?
Estamos com uma expectativa muito grande, com uma metodologia muito diferente, vai ser o ver, julgar e agir, mas este Intereclesial vai privilegiar bastante o ver. Fazer com que os delegados destas comunidades possam ir lá e ver como é esta realidade, dialogar com esta realidade, obviamente vão ter que comparar com o lugar onde moram. Vão fazer esta comparação por meio do diálogo. Eu acho que o Intereclesial na Amazônia vai favorecer muito a tomada de consciência e a expectativa é que estes delegados possam voltar e fazer com que a Amazônia entre de fato na pauta nas comunidades.
As CEBs iniciaram suas atividades na década de 70, e tiveram papel fundamental na conscientização política e humana, durante a ditadura militar. Hoje percebemos que muitos setores da Igreja as vêm com um certo descrédito. O que são as CEBs?
As CEBs são a Igreja na base, uma CEB tem quatro elementos fundamentais em sua composição: fé, celebração da fé, comunhão e missão. Quando se fala de fé, fala-se do uso da Palavra com os círculos bíblicos, com uma leitura que faz a ponte fé e vida, um olho na Bíblia e outro na vida. O segundo elemento é a celebração semanal vivida em comunidade, este é o aspecto litúrgico, geralmente celebrado por leigos, como uma igreja ministerial, não porque as CEBs não querem padres, mas sim pela falta deles. Quando não há padres, os leigos assumem seu batismo e realizam as celebrações nas comunidades. O terceiro elemento é o Conselho Pastoral Comunitário, que seria a dimensão da comunhão, onde estão as representações de todos os movimentos e grupos. O Conselho é onde as pessoas sentam, debatem e tomam as decisões necessárias para a caminhada da comunidade. Por último, o elemento missionário. Não podemos misturar CEBs com movimentos e pastorais, estes são serviços e a Comunidade Eclesial de Base não é serviço.
Documentos publicados recentemente falam da necessidade de a Igreja recuperar o modelo CEBs de ser Igreja. Como recuperá-lo? É possível?
Para a Igreja recuperar isso é necessário que as paróquias vejam os quatro elementos das CEBs. Se isso acontecesse, teríamos uma Igreja seguindo Jesus de maneira central e mais forte, muito mais, do que simplesmente ficar fazendo um culto a Jesus, dando valor às questões transcendentais e emocionais, perdendo de vista as questões concretas da sociedade. O mundo está pegando fogo e o pessoal está olhando só para o céu. Tem que olhar para cima e para baixo, fazer esta ponte. Há também que se mudar aquela compreensão muito reducionista, que é pensar a paróquia como matriz. A paróquia é uma comunidade de comunidades e elas podem ou não ter uma capela, elas podem se reunir em um ginásio, num colégio, num centro comunitário. Se a gente compreender que Igreja é comunidade, então qual a menor estrutura desta Igreja? As comunidades, estas células são a inicial estrutura eclesial.
O Documento de Aparecida afirma que a Igreja precisa ser missionária. Como as CEBs assumem este chamado?
A missão é vista como um compromisso sócio-transformador, que é a missão de toda a Igreja, não exclusiva das CEBs. Todos os que se consideram Igreja tem esta dimensão missionária. O Documento de Aparecida ressalta isso, e as Comunidades Eclesiais de Base ajudam a formar estes missionários para atuar de modo transformador na sociedade.
Karla Maria. Publicado na edição Nº05 - junho 2009 - Revista Missões. www.revistamissoes.org.br
Entrevista com Dom Angélico Bernadino Sândalo
"O nosso compromisso evangélico com a justiça é parte fundamental da evangelização".
"Anos atrás eu tive um enfarte e sempre que faço radiografia do tórax aparece o povo querido no coração", revela emocionado dom Angélico Sândalo Bernardino, em entrevista à revista Missões, no seu novo endereço em São Paulo. O telefone não para de tocar. "Tenho sido muito solicitado para encontros, palestras, conferências e retiros espirituais", explica o bispo emérito de Blumenau, SC, diocese que serviu nos últimos nove anos. "Angélico" no trato com as pessoas e firme em suas convicções, tira lições profundas do cotidiano. Na parede do escritório, que serve também como capela e biblioteca, fotos com dom Hélder Câmara. Sua mesa de trabalho exibe uma foto de Huyra, índia Guajás que acaba de amamentar o filho Tamataí e agora aleita um filhote de porco do mato. Noutra foto, uma mãe indiana amamenta o bebê e, ao mesmo tempo, um macaquinho. Sobre a foto lê-se: "O Verbo se fez carne...", um ato de fé que parece explicar seu lema episcopal: "Deus é amor". Na legenda: "Só quem é pobre procede com tanta generosidade...". Dom Angélico nasceu em Saltinho, em 1933, e estudou em São Carlos e Sorocaba, SP. Cursou Filosofia na Faculdade Assunção, Ipiranga, SP e Teologia em Viamão, RS. Foi ordenado padre em 12 de julho de 1959, celebrando este ano seu jubileu sacerdotal. Poeta e jornalista, trabalhou em diversos meios de comunicação e pastorais. Bispo desde 1975, atuou na arquidiocese de São Paulo e na diocese de São Miguel Paulista. Hoje é membro da subcomissão dos bispos eméritos da CNBB.
Dom Angélico, temos no Brasil atualmente 144 bispos eméritos, dentre os quais quatro cardeais. Como são acompanhados esses bispos e qual é a sua missão?
O bispo emérito é uma bênção para a Igreja. Quando fazemos 75 anos apresentamos o pedido de renúncia e temos a alegria de receber o nosso sucessor na diocese. A medida é altamente saudável, porque pessoas mais jovens assumem o cargo. Aliás, essa medida deveria atingir a todos na Igreja (padres, patriarcas e cardeais). O papa é meu pai eu o acho intocável, não quero nem fazer consideração a este respeito. A razão é que, com o passar dos anos, as forças físicas e psicológicas decrescem e isso vale para todos os filhos de Deus. O cardeal continua com um cargo de alta responsabilidade, a eleição do papa, por exemplo. Ser emérito não significa estar aposentado. Nós podemos e devemos continuar a rezar intensamente pela diocese. Como discípulos de Jesus Cristo, somos missionários até quando ressuscitarmos para vida eterna.
Tem algum documento ou orientações sobre o bispo emérito na Igreja? Há um estudo da Congregação para os bispos, sob a responsabilidade do cardeal Giovanni Batistta Ré, muito importante. Ele apresenta alguns testemunhos de bispos eméritos, mas, na minha opinião, nós caminhamos muito no aspecto jurídico e pouco ainda no sagrado e na comunhão. Por exemplo, este estudo ressalta que o bispo emérito continua a pertencer ao colégio episcopal e pode ser convocado para um Concílio Ecumênico, pode também ser eleito para o Sínodo Episcopal, com voto deliberativo, mas pelo fato de ser emérito, ele deixa de pertencer à Conferência Episcopal. Eu acho esta medida discriminatória, sobretudo, quando o próprio papa João Paulo II, em 1999, escreveu uma carta memorável sobre o respeito que se deve dar aos anciãos. Dom Antônio Mucciolo, arcebispo emérito de Botucatu, SP, apresentou ao cardeal Ré, a sugestão de organizarmos uma associação, mas a iniciativa foi descartada. Leigos podem se associar, bispos eméritos não devem se associar. Na última Assembleia da CNBB eu pedi que os bispos na visita ad limina apresentem ao papa e à Congregação para os bispos, o pedido para que o bispo emérito continue a pertencer à Conferência Episcopal, com poderes limitados. Somos uma Igreja carente de ministros e não é tempo de, missionariamente colocarmos de lado pessoas que podem colaborar. Há um encaminhamento para que teólogos aproveitem do bispo emérito e a própria Conferência Episcopal nomeou uma subcomissão para acompanhá-los. A subcomissão já lançou uma consulta a respeito da vida e do ministério do bispo emérito. Um dos pedidos foi que se realizem encontros. A comissão pediu também que cada regional da CNBB escolha um bispo referencial e marcamos um encontro com estes bispos em Aparecida, de 31 de agosto a 3 de setembro.
O senhor participou de duas Conferências do CELAM, Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007) e foi também delegado no Sínodo dos Bispos para a América (1997). Como entender a conversão pastoral e renovação missionária da Igreja?
Aparecida foi uma bênção onde nós acolhemos o Espírito Santo, para que sejamos livres em Cristo. Este sentido de liberdade tem que crescer na Igreja. Nós temos que criar espaços de diálogo na caridade. O enunciado da Conferência para que sejamos uma Igreja discípula missionária é realmente urgente porque precisamos de uma séria purificação. Colocar Jesus Cristo no centro nos leva ao Pai e nos abre à Missão. Eu sinto que a Igreja está sendo beijada pelo Espírito Santo, ela está passando de uma pastoral de conservação para uma pastoral autenticamente missionária. Este é o momento de convocação geral, de formação e de investir nos leigos e leigas, em um reconhecimento do batismo, mas é preciso que eles exerçam seu ministério e que sejam apoiados. Ser presbítero celibatário é um dom, é um carisma. Mas defendo também que nós não devemos continuar com comunidades de católicos abandonadas, que têm fome da Eucaristia. Fazer somente a comunhão espiritual não alimenta. Então, precisamos realmente rezar e refletir seriamente sobre a ordenação, para que, unidos ao bispo, aos padres celibatários, tenhamos também, homens provados na comunidade e na família, que possam ser ordenados presbíteros e diáconos agindo na comunidade eclesial. Eu acredito em uma Igreja explosivamente ministerial para que a paróquia realmente se converta numa rede articulada de comunidades, (CEBs) sem o que realmente nós não teremos a explosão missionária que devemos ter.
A última Assembleia da CNBB revisou as Diretrizes da Formação dos Presbíteros à luz de Aparecida. Há alguma novidade sobre o padre do futuro?
Nós estamos vivendo numa nova época de globalização e crise do capitalismo, uma nova época em que os meios de comunicação estão revolucionando o modo das pessoas tomarem contato com o mundo. As pastorais sociais, na década de 70 eram a voz de Deus e a voz do povo, em tempos de perseguição. Hoje parece que não há o que enfrentar, mas os problemas básicos da população continuam e nós temos uma dificuldade para nos adaptar ao novo contexto. Na Igreja é muito mais fácil se aburguesar do que se comprometer com a causa da justiça. É muito mais fácil participar numa reunião de culto sem compromisso, preocupado com edifícios que muitas vezes causa um consolo espiritual, do que realmente ir à luta pela causa da justiça. Não nos esqueçamos de que a Igreja será bem-aventurada na medida em que, a exemplo de Jesus, proclamar bem-aventurados os pobres de espírito. Nós somos discípulos de alguém que não morreu na cama, mas morreu crucificado e foi pego pelas autoridades religiosas, políticas, econômicas e sociais do seu tempo.
Diante da gritante desigualdade social, por que a fé cristã não tem força para forjar uma sociedade mais justa conforme o sonho de Deus?
A Igreja no Brasil nunca investiu seriamente numa catequese abrangendo a vida toda do cristão, ela é uma catequese sacramentalista. Na queda do regime de cristandade que estamos vivendo temos uma ignorância religiosa. Sobre a Iniciação Cristã, a Assembleia da CNBB voltou a considerar o catecumenato. Precisamos tomar algumas medidas sérias. Se investíssemos na catequese aquilo que investimos em templos e casas, já começaríamos a fazer uma revolução.
Como o senhor gostaria de ver a comunicação na Igreja?
Gostaria que a nossa Igreja acordasse para a presença nos meios de comunicação e valorizasse os nossos meios. Precisamos investir muito mais. "É tempo de investir não em torres de igreja, mas em torres de rádio e televisão", já me dizia um bispo tempos atrás, mas a gente ainda continua investindo em torre de igreja onde as corujas fazem seus ninhos. Eu acho que a CNBB tem que dar alguns passos neste sentido e nós podemos investir mais nos nossos meios.
Como o senhor vê a resistência tão grande, em se fazer cumprir o direito dos Povos Indígenas no Brasil?
A história do Brasil coincide com a história de genocídio dos índios, isto é uma vergonha. Há dois mil anos Jesus Cristo já dizia, que não é possível coexistir o Reino com o dinheiro enquanto objeto de exploração. É tempo de o Brasil criar vergonha e ser realmente uma nação pluricultural, de muitos povos. O governo precisa continuar firme. Parabéns à Raposa Serra do Sol. Medidas semelhantes devem ser adotadas em todos os cantos do Brasil. Nós temos uma dívida social imensa com índios e afrodescendentes, todo o trabalho de Igreja, do Cimi, da Pastoral Afro e de outras entidades a favor da dignidade e da preservação da cultura destes povos, tem que encontrar, na Igreja, uma voz profética. Alguns deputados, senadores e fazendeiros são muito atrasados, porque os direitos dos índios são anteriores.
O Brasil tem ainda outra dívida para com a população afrodescendente. O que pensa das ações afirmativas como cotas para negros nas universidades?
Jaime Carlos Patias, imc, mestre em comunicação e diretor da revista Missões.
Karla Maria, LMC, estudante de jornalismo e colaboradora da revista Missões.
Publicado na edição Nº06 - Julho/Agosto 2009 - Revista Missões.