terça-feira, 27 de outubro de 2009

Partilha do 12° Intereclesial apresentada no Setor Pereira Barreto



As CEBs nascem no Brasil e em toda a América Latina e Caribe impulsionadas pelo espírito do Vaticano II. Em Medellín (1968), elas são reconhecidas como "primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve, em seu próprio nível, responsabilizar-se pela riqueza e expansão da fé, como também pelo culto que é sua expressão. É ela, portanto, célula inicial de estruturação eclesial e foco de evangelização e atualmente fator primordial de promoção humana e desenvolvimento" (Medellín, 15. Pastoral de Conjunto, número 10). As CEBs continuam buscando aliar fé e política; espiritualidade e compromisso social, sem perder de vista o caráter ecumênico e inter-religioso. 
O 12° Intereclesial e seus delegados

Este grande encontro das comunidades de Base, teve sua 1° edição, em 1975 e desde então, trabalha com temas que estão inseridos na realidade do seu povo. O Intereclesial de 2009, trabalhou com o tema: Ecologia e Missão, do Ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia. Mais de 270 dioceses de todo o Brasil, enviaram seus delegados, a arquidiocese de São Paulo enviou 50 delegados, destes 20 representantes da Região Brasilandia, dividida em sete setores (Cântaros, Freguesia do Ó, Jaraguá, Nova Esperança, Pereira Barreto, Perus e São José Operário). Os delegados fazem parte das pastorais sociais, emprestam seu tempo e talento para o desenvolvimento de atividades conjuntas, como dias de formação política e direitos humanos, Caminhadas pela Paz, visitas aos presídios, hospitais, encontros com indígenas, pessoas em situação de rua, celebrações que valorizam a pastoral afro, a 3° idade, encontros formativos nas áreas de saúde e ecologia, participam da Romaria da Terra e da Água e da Romaria a Pé. Para participar como delegado no Intereclesial, era necessário, portanto, ter envolvimento com as atividades sociais, alimentados pela Eucaristia e ter participado de encontros formativos estaduais. O Setor Pereira Barreto foi representado pela Karla Maria, da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, Comunidade Mãe Rainha, membro da PASCOM Regional.


“Gente simples fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes consegue mudanças extraordinárias, provérbio africano proferido por dom Moacyr Grechi, bispo de Porto Velho.
Embarcando...
A arquidiocese de São Paulo, com a ajuda de suas regiões episcopais, setores e Institutos Católicos, alugaram um ônibus para os delegados da Arquidioces, nele embarcaram também membros do CIMI - Conselho Indigenista Missionário. Foram três dias de viagem, oração e partilha.


Acolhida da Igreja de Porto Velho
O Regional Sul 1 da CNBB (estado de São Paulo) enviou 301 delegados para o Intereclesial e todos eles foram acolhidos pelas famílias da Paróquia Nossa Senhora do Amparo. “Nós, da Paróquia Nossa Senhora do Amparo, estamos felizes porque chegou a hora de abraçar todos vocês que "vêm em nome do Senhor", afirmou padre Eduardo Fabiano, o pároco e Marcelo, vigário.


O que vimos...
O Rio Madeira, a construção de barragens que trazem energia e expulsam os povos tradicionais: homens e mulheres que vivem do extrativismo e da pesca, indígenas de 38 etnias diferentes, irmãos que professam outras religiões, de todas as cores, caras e sorrisos. Em Porto Velho sentimos o sabor de seus pratos, o calor da Amazônia, do abraço, do acolhimento e do trabalho de mais de 2 mil voluntários envolvidos na Infra-estrutura do 12° Intereclesial, em equipes de liturgia, logística, criativa, comunicação, alimentação, saúde...




O trabalho...
Durante o Intereclesial os delegados foram divididos em rios e canoas. Os rios (12) eram mini-plenárias, espalhadas pela capital, onde se reuniam cerca de 250 pessoas, já as canoas, eram grupos destes rios que se dividiam, para facilitar os trabalhos de partilha e reflexão (grupos de até 20 pessoas). Nestes momentos, era possível conhecer pessoas e realidades muito diferentes da Igreja de São Paulo. Histórias desde Caxias do Sul (RS), Boa Vista (RR) até São Luís (MA), cada uma com um sotaque e experiência únicos.


A missão...
No 3° dia, os participantes partiram em missão entre as populações indígenas, comunidades afrodescendentes, ribeirinhas, extrativistas, assentamentos rurais, áreas de ocupação, bairros da periferia, hospitais, presídios, casas de recuperação de pessoas com dependência química, menores e pessoas com deficiências. Mais do que o ouvir, o contato, traz um comprometimento com a dor e com a luta dos que mais sofrem.

O diálogo Inter-religioso...
Líderes dos povos indígenas, dos cultos afro-brasileiros, de judeus, cristãos ortodoxos, católicos, evangélicos e mulçumanos. Juntos assumiram compromisso pela paz.





“Não é a natureza que precisa de nós, somos nós que precisamos dela”

Eva Kanoé, liderança indígena de RO.



O Intereclesial reforçou a necessidade de:
que cada um se responsabilize pelo futuro da humanidade cuidando do meio ambiente; leve o Cristo do altar para o dia-a-dia, articule fé e vida, respeite as diferenças étnicas, culturais, religiosas, acolha os mais vulneráveis da sociedade, que tem fome de pão e amor de Deus.


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O diálogo com os afro-descendentes, uma tentativa de reparar a história

O diálogo interreligioso é uma das características das CEBs na América Latina. Como prática desta postura, o 12º Interecesial incluiu em sua programação uma visita dos participantes à casa de candomblé Ile Ase Ogun Dajulekan, na cidade de Porto Velho. A visita aconteceu na quinta-feira, no dia dedicado à missão.

Cheia de cor e axé, o babalorixá Hilton Veiga Monteiro recebeu aproximadamente 150 delegados do Intereclesial dispostos a conhecer o outro, ouvir e aprender com as práticas e espiritualidades locais. Tiveram ainda a oportunidade de aprofundar e adquirir novos conhecimentos, tirar dúvidas e mitos que alimentam o pré-conceito em relação às religiões afro-descentes. O pai de santo Hilton da casa Ile Ase Ogun Dajulekanque, acolheu os delegados com uma palestra sobre a origem do candomblé e respondeu às perguntas dos visitantes. Afirmou que o candomblé desde sempre defendeu o meio ambiente, por considerar que os orixás estão presentes nos quatro elementos da natureza (água, fogo, terra e ar). Quando questionado sobre a importância do 12° Intereclesial das CEBs, pai Hilton foi claro: "precisamos de união e este é um momento de união, de um só grito pela ecologia, pela natureza".

Hilton está no candomblé há 52 anos e há nove é pai de santo. Em entrevista revelou que a população brasileira desconhece as religiões e essa falta de conhecimento gera o pré-conceito. Ele se colocou à disposição para esclarecer aspectos da cultura.

Maria Aparecida, delegada amazonense da Prelazia de Lábrea estava presente na missão. Para ela "a Igreja está aceitando a realidade do povo, ela deve defender e valorizar o negro e sua cultura", afirmou. Disse ainda ver a CEBs como a uma porta de acolhida dos irmãos de religião afro-descendente para a Igreja Católica.

Para as visitas missionárias os delegados foram divididos em 11 grupos que se deslocaram para comunidades de povos indígenas, agrícolas, extrativistas, ribeirinhas, comunidades de ocupação, Casas de detenção, hospitais, Casa do Menor, bairros da periferia de Porto Velho, Casa de pessoas com deficiência e Casa de Recuperação de pessoas com dependência química.

CEBs convoca a juventude para a Missão

Com o tema “Jovens, Missão na Cidade”, a Comissão das CEBs - Comunidades Eclesiais de Base, da Região Episcopal Brasilândia, reuniu 116 jovens, no dia 18 de outubro, na Paróquia Nossa Sra. Mãe de Deus, na Freguesia do Ó, para o 4° Retiro de Jovens das CEBs.


Com o objetivo de aproximar a juventude da caminhada da Igreja, conectada à realidade da cidade de São Paulo, a Comissão das CEBs contou com a assessoria da missionária xaveriana, irmã Elena Conforto e com o monitor de crisma do Setor Nova Esperança João Sérgio (Serginho), também membro da comissão regional.

Serginho é músico e foi responsável pela animação e condução do retiro. Elaborou e apresentou um filme com a história da capital e através dele, os jovens levantaram os problemas mais latentes da cidade. A partir do VER, eles puderam, com a ajuda da irmã Elena, JULGAR: Como é ser jovem neste contexto? “O retiro quer ajudar a uma espiritualidade atuante para uma ação transformadora que vise, de maneira especial, a missão dos jovens na cidade”, destacou a religiosa.

Alimentados pelo Evangelho, pelo 10° Plano Pastoral da Arquidiocese e à luz do 12° Intereclesial das CEBs, os jovens partiram para os trabalhos em grupo e a partir de suas realidades, também distintas dentro dos setores, apresentaram suas propostas, o AGIR, para a “missão na cidade”. A resposta foi simples: “nós sabemos, o caminho é o amor”. O amor pela cidade, a mobilização da comunidade para solucionar os problemas e a teimosia, a persistência de não desistir dos propósitos.

A síntese dos trabalhos em grupo destacou uma característica do jovem nos dias de hoje, uma característica da sociedade como um todo. A cidadania e o engajamento nos movimentos sociais, não são vistos como instrumentos de transformação da realidade local. “Pode ser que esta geração sinta isso distante, a questão de cidadania e de consciência é uma questão também cultural”, explicou irmã Elena. Essa constatação explica a preocupação das CEBs em envolver, formar e informar a juventude e com ela caminhar.

A história de lutas da Região Brasilândia, de conquistas nos últimos 20 anos, de “Santa Teimosia”, como já definiu em outro momento padre Manzato, serve de lição para os jovens, como afirma Luciano Mota, 22 anos, um dos participantes do retiro. “A Brasilândia tem muitas lutas, como a do “Lixão”, quando o povo se preocupa com a juventude, a juventude fala, a juventude não é essa bagunça, não é só balada, aqui tem muito jovem que se preocupa com uma cidade melhor, com um bairro melhor. Eu me entusiasmo em ver jovens de quase todos os setores aqui. Me motivo e mostro isso e tento contagiar os outros, porque devemos ser multiplicadores de tudo o que é bom”, concluiu Luciano que faz parte da paróquia Nossa Senhora das Graças, de Perus.

As CEBs têm uma mentalidade de Igreja participativa, onde leigos e leigas assumem sua vocação eclesial, por conta do próprio batismo. Hoje, diferente da década de 70, ela não se define apenas por suas estruturas físicas, mas sim, por serem comunidades que unem fé e vida e não separam a existência religiosa da existência cotidiana. Por isso, a preocupação em envolver a juventude, desde já, na Missão.

O 4° Retiro foi encerrado com a Eucaristia, celebrada pelo padre José Renato, assessor regional das CEBs. Ele destacou a importância da juventude para a caminhada da igreja, o trabalho de toda a comissão na infraestrutura do retiro que, como de costume, acontece em Mutirão. Ao final, os jovens receberam o anel de Tucum, símbolo do compromisso daqueles que assumem seu batismo, e foram enviados à Missão na Cidade.

Mais fotos, no álbum do Sérginho.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

As CEBs em defesa dos Ecossistemas do Estado de São Paulo

Acordar cedo, enfrentar horas de viagem, deixar para trás família e confortopara, em comunhão com outros irmãos e irmãs discutir práticas depreservação do meio ambiente no Estado de São Paulo, foi o objetivo doEncontro Estadual das CEBs, que acontece nos dias 19 e 20 de julho, na Escola Salesiana São José, em Campinas.

A centenária Diocese de Campinas, não mediu esforços para bemacolher os delegados; o sorriso da juventude que recepcionava os ônibusna porta da Escola, o carinho das 1350 famílias de toda a região deCampinas, marcaram positivamente a participação dos 1373 delegados presentes no Paulistão.

Félix Manoel dos Santos, padre e Assessor das CEBs do Regional Sul1 da CNBB, afirmou que o Encontro tem três objetivos: construir aunidade do Estado de São Paulo e buscar sementes a serem plantadas nascomunidades de base; criar consciência do cuidado com o Ecossistema;preparar a participação do Regional no 12º Intereclesial, marcado parajulho de 2009, em Porto Velho, RO.

Concluídas as apresentações e objetivos do Paulistão, o professorde geografia agrária, Ariovaldo Umbelino, da USP, fez uma análise daConjuntura Geográfica do Estado de São Paulo, elencando suascaracterísticas peculiares e recordando o histórico das grandes áreasflorestais, trazendo à tona o problema da propriedade destas terras,que só foram demarcadas a partir da década de 80.

A necessidade da Reforma Agrária, a garantia da terra aos povosindígenas e a responsabilidade ambiental com a Terra e as Águas, foramtambém abordados pelo mestre Umbelino.

Na tarde do sábado, 19,os delegados se dividiram em 6 oficinas de trabalho: Reciclagem,Cuidado com o Solo Urbano, Águas e Matas Ciliares, SustentabilidadeAlimentar, Saneamento Ambiental e Reforma Agrária, destas oficinassaíram reflexões a serem transformadas em práticas nas comunidades, como objetivo de defender os Ecossistemas do Estado.

A presença da Mãe Mariama foi um momento marcante no Paulistão. Afim de fortalecer a caminhada dos participantes e iluminar as propostasde ação, os delegados se voltaram à Mãe pedindo sua benção e proteção. "NegraMariama chama pra lutar, em nossos movimentos sem desanimar. Levanta acabeça dos esfoliados, nossa companheira chama pra avançar".

A Praça Madeira Mamoré, em Porto Velho, foi o palco da abertura do 12° Intereclesial de CEBS.

Participam do Intereclesial representantes das comunidades eclesiais de base, engajados em movimentos sociais, em defesa da vida e da ecologia. Os Povos Indígenas também marcam presença no Intereclesial. “Acreditamos que unidos às CEBs estaremos mais fortalecidos. Viemos mostrar que nós existimos e resistimos, que nós somos a Amazônia, que nós somos o Brasil”, afirmou Maria Eva, do povo Kanoé, uma das lideranças indígenas de Guajaramirim, que fica há cerca de 300kilometros de Rondônia, na fronteira com a Bolívia.

Além do povo Kanoé, outros 37 povos articulados pelo CIMI – Conselho Indianista Missionário, se reuniram no dia 20/07, na Escola Municipal São Miguel, em Porto Velho, para divulgar a Campanha Povos Indígenas na Amazônia – Presente e Futuro da Humanidade. A Campanha foi lançada em Belém do Pará durante o Fórum Social Mundial e agora está em fase de divulgação, com um direcionamento mais político, enfrentando temas como o Estatuto dos povos Indígenas, mudanças em relação à estrutura pública e de saúde indígena.

Segundo seus organizadores, o objetivo da Campanha é sensibilizar a sociedade sobre a realidade sócio-ambiental e a experiência histórica dos povos indígenas e das comunidades tradicionais. Denunciar as ameaças à vida dos povos da Amazônia, fortalecer e garantir os direitos territoriais e exigir a proteção da vida dos povos indígenas às autoridades competentes. Para Aroldo Pinto do Espírito Santos, uma das lideranças em Porto Velho, que defende os povos indígenas, o Intereclesial é um importante evento. “Precisamos mostrar a resistência diante destes grandes projetos, como o PAC, que estão aterrorizando, destruindo e desmatando. As principais vítimas são os povos indígenas. Esse é um espaço para mostrar seu grito e clamar por justiça”. Segundo Masson Norman Reis, do CIMI, já estão reunidos em Porto Velho os povos Anara, Cujubim, Tupari, Makurape, Nambikuara, Karitiana, Oro Warian Xijein, Xerente, Rikbaktsa, Kanoé, Munduruku, Oro Mon, Arap’um, Guarani, Pataxó, Jaboti (Djorometdi), Arikapu, Kulina, Oro Waje, Bororo, Cassupá, Kaxinawa, Wapixana, Terena eTupinambá, das regiões do Mato Grosso, Pará, Tocantins, Acre, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Roraima e Rondônia.

A Cerimôniade abertura foi também marcada pelos presença e pelo clamor dos povos indígenas, que se juntaram ao grito dos povos ribeirinhos, dos seringueiros, quilombolas e migrantes de todo o Brasil, que lutam por vida, justiça e respeito por suas escolhas, opções de vida e autonomia.

As CEBs tem papel fundamental nesta luta, respeita a diversidade cultural e religiosa destes povos da Amazônia e se une para conquistar os direitos já garantidos pela Constituição Federal e mais do que isso, pelo Criador.

** Estive em Porto Velho- RO como delegada da Região Episcopal Brasilândia, da Arquidiocese de São Paulo, Regional Sul 1 e como correspondente da Revista Missões.

A Colegiada se São Paulo se reúne e recebe dom Odilo

A Colegiada das CEBS – Comunidades Eclesiais de Base do estado de São Paulo, esteve reunida no Centro Pastoral Santa Fé – Anhanguera, nos dias 22 e 23 de agosto para avaliar o 12° Intereclesial, realizao em Porto Velho-RO, de 21 a 25 de julho.
O encontro reuniu representantes das oito sub-regiões que agregam as 43 dioceses do estado. Acompanhados por dom Maurício Grotto de Camargo, arcebispo de Botucatu, além da avaliação do Intereclesial, os representantes avaliaram a participação do estado no encontro e traçaram calendário e projetos das comunidades de base a partir dos compromissos traçados em Porto Velho.
Com a assessoria do padre Aécio Cordeiro da Silva, pároco na Região Episcopal Brasilândia, foi feita uma análise de conjuntura e resgate da memória das lutas das CEBs na Arquidiocese de São Paulo (SP1).
No domingo pela manhã, dom Odilo Pedro Sherer, arcebispo de São Paulo, se reuniu à colegiada das CEBs e deixou seu recado. “Eu espero que as CEBs estejam bem vivas, bem ligadas às comunidades paroquiais para poderem manter a sua motivação eclesial e receberem também os impulsos que vem da Igreja e possam traduzr na sua prática e na sua vida. Suscitem novas e mais comunidades”, afirmou o arcebispo, que questionou à colegiada quais os rumos e projetos das CEBs.
Em resposta os representantes destacaram a necessidade de repensar a pastoral urbana, fortalecer a Missão Continental e os grupos de rua, motivar a formação nas comunidades eclesiais, assumir o Grito dos Excluídos, a Romaria da Terra e da Água, estar presente com as pastorais sociais e ser Igreja na sociedade para construir o Reino de Deus.
“As CEBs tem esta característica de estar com o pé fincado na realidade local próxima da vida do povo, nós temos nas nossas cidades, uma série de questões e há enormes possibilidades de atuação e envolvimento, é preciso se unir aos demais organismos, sejam católicos ou não, para mudar as situações de desrespeito à dignidade humana”, afirmou dom Odilo ao se despedir.
A Colegiada estadual das CEBs também se mostrou indignada quanto à atual situação política do país. “Estamos indignados com a postura do Senado Federal e por isso estamos intensificando a coleta de assinaturas para a Campanha Ficha Limpa. Queremos que este projeto de lei funcione já nas próximas eleições. O que estamos vivendo é uma vergonha e falta de ética, afirmou Liz Maria Marques, representante da Região Belém na Arquidiocese de São Paulo.
A Colegiada das CEBs se reúne quatro vezes ao ano e é composta por cerca de 32 representantes de cada uma das sub-regiões (Aparecida, Botucatu, Campinas, RP1, RP2, SP1, SP2 e Sorocaba.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Entrevista com Prof. Sérgio Coutinho - CNBB

Toda a Igreja precisa ser missionária, e para ser missionária precisa mexer nas estruturas. As Comunidades de Base ajudam a formar missionários para atuar de modo transformador na sociedade".

Sérgio Ricardo Coutinho é professor de Ciências da Religião da Universidade Católica de Brasília e atua principalmente com os temas: História da Igreja Católica, Concílio Vaticano II e Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. Como assessor nacional das CEBs, Coutinho tem auxiliado na preparação e metodologia de trabalho que será utilizada no 12º Encontro Intereclesial, que ocorrerá em Porto Velho, de 21 a 25 de julho de 2009.

Com o tema "CEBs: Ecologia e Missão", e o lema "Do Ventre da Terra, o Grito que vem da Amazônia", o 12º Intereclesial espera reunir aproximadamente três mil delegados, representando mais de 80 mil comunidades espalhadas por todo o Brasil. Com o objetivo de trocar experiências e renovar seu compromisso com a Igreja, durante os dias na Região Amazônica os delegados visitarão hospitais, Casas de Detenção e conhecerão como vivem os garimpeiros e indígenas. Terão ainda a oportunidade de ouvir testemunhos como o da senadora Marina Silva, de dom Pedro Casaldáglia e de dois prêmios Nobel: Rigoberta Mechú (Guatemala) e Desmond Tutu (África do Sul).

Em preparação para o Intereclesial, e para o encontro com toda esta realidade, a coordenação da Ampliada Nacional orientou a realização de dias de formação para os delegados de todo o Brasil. Em uma de suas assessorias, durante a formação dos delegados do Estado de São Paulo, realizada em Itatiba, nos dias 7 e 8 de março, Sérgio Coutinho concedeu entrevista à revista Missões falando sobre sua expectativa com relação ao 12º Interecleial e sobre as CEBs no Brasil.

Os enviados a Porto Velho estarão em meio às discussões em torno de conflitos agrários, aldeamentos indígenas e agressão à cultura dos povos locais, devastação da floresta, agronegócio e implantação de usinas hidrelétricas e barragens. O que se espera destes delegados, tendo em vista tamanha complexidade daquilo que irá se discutir e viver durante o encontro?

Nós acreditamos que eles sejam multiplicadores de informações que estão sendo debatidas aqui, no encontro em preparação para o Intereclesial, e que tragam de Porto Velho pautas para o dia a dia em suas comunidades. Se as lideranças comunitárias, ou seja, os delegados, puderem estudar o texto base sobre o tema da Amazônia já é uma forma de se criar consciência, de que maneira podemos interferir no processo político. Como estas lideranças são capazes de gerar uma opinião púbica, achamos que este seja um processo em rede, que vai alcançando o maior número de pessoas, lógico que não é a totalidade, mas ajuda em muito a tomada de consciência e postura diante da questão. Encontros de preparação ajudam na formação de uma opinião pública. Espera-se, portanto, que os delegados multipliquem as informações e sejam formadores de opinião, em suas comunidades.

Por que realizar o 12° Intereclesial na Amazônia?

O Intereclesial na Amazônia vai fazer com que as Comunidades sejam de fato Comunidades Ecológicas de Base, e que haja preocupação com a vida como um todo. A vida que envolve o planeta, o cosmo, a solidariedade com outros seres vivos, com a necessidade de pensar a terra como uma comunidade viva. A CNBB já fez uma Campanha da Fraternidade em 2007 sobre a Amazônia e isso sensibilizou muitos cristãos católicos a serem missionários na região.

O que esperar deste encontro nacional das CEBs?

Estamos com uma expectativa muito grande, com uma metodologia muito diferente, vai ser o ver, julgar e agir, mas este Intereclesial vai privilegiar bastante o ver. Fazer com que os delegados destas comunidades possam ir lá e ver como é esta realidade, dialogar com esta realidade, obviamente vão ter que comparar com o lugar onde moram. Vão fazer esta comparação por meio do diálogo. Eu acho que o Intereclesial na Amazônia vai favorecer muito a tomada de consciência e a expectativa é que estes delegados possam voltar e fazer com que a Amazônia entre de fato na pauta nas comunidades.

As CEBs iniciaram suas atividades na década de 70, e tiveram papel fundamental na conscientização política e humana, durante a ditadura militar. Hoje percebemos que muitos setores da Igreja as vêm com um certo descrédito. O que são as CEBs?

As CEBs são a Igreja na base, uma CEB tem quatro elementos fundamentais em sua composição: fé, celebração da fé, comunhão e missão. Quando se fala de fé, fala-se do uso da Palavra com os círculos bíblicos, com uma leitura que faz a ponte fé e vida, um olho na Bíblia e outro na vida. O segundo elemento é a celebração semanal vivida em comunidade, este é o aspecto litúrgico, geralmente celebrado por leigos, como uma igreja ministerial, não porque as CEBs não querem padres, mas sim pela falta deles. Quando não há padres, os leigos assumem seu batismo e realizam as celebrações nas comunidades. O terceiro elemento é o Conselho Pastoral Comunitário, que seria a dimensão da comunhão, onde estão as representações de todos os movimentos e grupos. O Conselho é onde as pessoas sentam, debatem e tomam as decisões necessárias para a caminhada da comunidade. Por último, o elemento missionário. Não podemos misturar CEBs com movimentos e pastorais, estes são serviços e a Comunidade Eclesial de Base não é serviço.

Documentos publicados recentemente falam da necessidade de a Igreja recuperar o modelo CEBs de ser Igreja. Como recuperá-lo? É possível?

Para a Igreja recuperar isso é necessário que as paróquias vejam os quatro elementos das CEBs. Se isso acontecesse, teríamos uma Igreja seguindo Jesus de maneira central e mais forte, muito mais, do que simplesmente ficar fazendo um culto a Jesus, dando valor às questões transcendentais e emocionais, perdendo de vista as questões concretas da sociedade. O mundo está pegando fogo e o pessoal está olhando só para o céu. Tem que olhar para cima e para baixo, fazer esta ponte. Há também que se mudar aquela compreensão muito reducionista, que é pensar a paróquia como matriz. A paróquia é uma comunidade de comunidades e elas podem ou não ter uma capela, elas podem se reunir em um ginásio, num colégio, num centro comunitário. Se a gente compreender que Igreja é comunidade, então qual a menor estrutura desta Igreja? As comunidades, estas células são a inicial estrutura eclesial.

O Documento de Aparecida afirma que a Igreja precisa ser missionária. Como as CEBs assumem este chamado?

A missão é vista como um compromisso sócio-transformador, que é a missão de toda a Igreja, não exclusiva das CEBs. Todos os que se consideram Igreja tem esta dimensão missionária. O Documento de Aparecida ressalta isso, e as Comunidades Eclesiais de Base ajudam a formar estes missionários para atuar de modo transformador na sociedade.

Karla Maria. Publicado na edição Nº05 - junho 2009 - Revista Missões. www.revistamissoes.org.br

Entrevista com Dom Angélico Bernadino Sândalo

"O nosso compromisso evangélico com a justiça é parte fundamental da evangelização".

"Anos atrás eu tive um enfarte e sempre que faço radiografia do tórax aparece o povo querido no coração", revela emocionado dom Angélico Sândalo Bernardino, em entrevista à revista Missões, no seu novo endereço em São Paulo. O telefone não para de tocar. "Tenho sido muito solicitado para encontros, palestras, conferências e retiros espirituais", explica o bispo emérito de Blumenau, SC, diocese que serviu nos últimos nove anos. "Angélico" no trato com as pessoas e firme em suas convicções, tira lições profundas do cotidiano. Na parede do escritório, que serve também como capela e biblioteca, fotos com dom Hélder Câmara. Sua mesa de trabalho exibe uma foto de Huyra, índia Guajás que acaba de amamentar o filho Tamataí e agora aleita um filhote de porco do mato. Noutra foto, uma mãe indiana amamenta o bebê e, ao mesmo tempo, um macaquinho. Sobre a foto lê-se: "O Verbo se fez carne...", um ato de fé que parece explicar seu lema episcopal: "Deus é amor". Na legenda: "Só quem é pobre procede com tanta generosidade...". Dom Angélico nasceu em Saltinho, em 1933, e estudou em São Carlos e Sorocaba, SP. Cursou Filosofia na Faculdade Assunção, Ipiranga, SP e Teologia em Viamão, RS. Foi ordenado padre em 12 de julho de 1959, celebrando este ano seu jubileu sacerdotal. Poeta e jornalista, trabalhou em diversos meios de comunicação e pastorais. Bispo desde 1975, atuou na arquidiocese de São Paulo e na diocese de São Miguel Paulista. Hoje é membro da subcomissão dos bispos eméritos da CNBB.

Dom Angélico, temos no Brasil atualmente 144 bispos eméritos, dentre os quais quatro cardeais. Como são acompanhados esses bispos e qual é a sua missão?
O bispo emérito é uma bênção para a Igreja. Quando fazemos 75 anos apresentamos o pedido de renúncia e temos a alegria de receber o nosso sucessor na diocese. A medida
é altamente saudável, porque pessoas mais jovens assumem o cargo. Aliás, essa medida deveria atingir a todos na Igreja (padres, patriarcas e cardeais). O papa é meu pai eu o acho intocável, não quero nem fazer consideração a este respeito. A razão é que, com o passar dos anos, as forças físicas e psicológicas decrescem e isso vale para todos os filhos de Deus. O cardeal continua com um cargo de alta responsabilidade, a eleição do papa, por exemplo. Ser emérito não significa estar aposentado. Nós podemos e devemos continuar a rezar intensamente pela diocese. Como discípulos de Jesus Cristo, somos missionários até quando ressuscitarmos para vida eterna.

Tem algum documento ou orientações sobre o bispo emérito na Igreja? Há um estudo da Congregação para os bispos, sob a responsabilidade do cardeal Giovanni Batistta Ré, muito importante. Ele apresenta alguns testemunhos de bispos eméritos, mas, na minha opinião, nós caminhamos muito no aspecto jurídico e pouco ainda no sagrado e na comunhão. Por exemplo, este estudo ressalta que o bispo emérito continua a pertencer ao colégio episcopal e pode ser convocado para um Concílio Ecumênico, pode também ser eleito para o Sínodo Episcopal, com voto deliberativo, mas pelo fato de ser emérito, ele deixa de pertencer à Conferência Episcopal. Eu acho esta medida discriminatória, sobretudo, quando o próprio papa João Paulo II, em 1999, escreveu uma carta memorável sobre o respeito que se deve dar aos anciãos. Dom Antônio Mucciolo, arcebispo emérito de Botucatu, SP, apresentou ao cardeal Ré, a sugestão de organizarmos uma associação, mas a iniciativa foi descartada. Leigos podem se associar, bispos eméritos não devem se associar. Na última Assembleia da CNBB eu pedi que os bispos na visita ad limina apresentem ao papa e à Congregação para os bispos, o pedido para que o bispo emérito continue a pertencer à Conferência Episcopal, com poderes limitados. Somos uma Igreja carente de ministros e não é tempo de, missionariamente colocarmos de lado pessoas que podem colaborar. Há um encaminhamento para que teólogos aproveitem do bispo emérito e a própria Conferência Episcopal nomeou uma subcomissão para acompanhá-los. A subcomissão já lançou uma consulta a respeito da vida e do ministério do bispo emérito. Um dos pedidos foi que se realizem encontros. A comissão pediu também que cada regional da CNBB escolha um bispo referencial e marcamos um encontro com estes bispos em Aparecida, de 31 de agosto a 3 de setembro.

O senhor participou de duas Conferências do CELAM, Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007) e foi também delegado no Sínodo dos Bispos para a América (1997). Como entender a conversão pastoral e renovação missionária da Igreja?
Aparecida foi uma bênção onde nós acolhemos o Espírito Santo, para que sejamos livres em Cristo. Este sentido de liberdade tem que crescer na Igreja. Nós temos que criar espaços de diálogo na caridade. O enunciado da Conferência para que sejamos uma Igreja discípula missionária é realmente urgente porque precisamos de uma séria purificação. Colocar Jesus Cristo no centro nos leva ao Pai e nos abre à Missão. Eu sinto que a Igreja está sendo beijada pelo Espírito Santo, ela está passando de uma pastoral de conservação para uma pastoral autenticamente missionária. Este é o momento de convocação geral, de formação e de investir nos leigos e leigas, em um reconhecimento do batismo, mas é preciso que eles exerçam seu ministério e que sejam apoiados. Ser presbítero celibatário é um dom, é um carisma. Mas defendo também que nós não devemos continuar com comunidades de católicos abandonadas, que têm fome da Eucaristia. Fazer somente a comunhão espiritual não alimenta. Então, precisamos realmente rezar e refletir seriamente sobre a ordenação, para que, unidos ao bispo, aos padres celibatários, tenhamos também, homens provados na comunidade e na família, que possam ser ordenados presbíteros e diáconos agindo na comunidade eclesial. Eu acredito em uma Igreja explosivamente ministerial para que a paróquia realmente se converta numa rede articulada de comunidades, (CEBs) sem o que realmente nós não teremos a explosão missionária que devemos ter.

A última Assembleia da CNBB revisou as Diretrizes da Formação dos Presbíteros à luz de Aparecida. Há alguma novidade sobre o padre do futuro?
Nós estamos vivendo numa nova época de globalização e crise do capitalismo, uma nova época em que os meios de comunicação estão revolucionando o modo das pessoas tomarem contato com o mundo. As pastorais sociais, na década de 70 eram a voz de Deus e a voz do povo, em tempos de perseguição. Hoje parece que não há o que enfrentar, mas os problemas básicos da população continuam e nós temos uma dificuldade para nos adaptar ao novo contexto. Na Igreja é muito mais fácil se aburguesar do que se comprometer com a causa da justiça. É muito mais fácil participar numa reunião de culto sem compromisso, preocupado com edifícios que muitas vezes causa um consolo espiritual, do que realmente ir à luta pela causa da justiça. Não nos esqueçamos de que a Igreja será bem-aventurada na medida em que, a exemplo de Jesus, proclamar bem-aventurados os pobres de espírito. Nós somos discípulos de alguém que não morreu na cama, mas morreu crucificado e foi pego pelas autoridades religiosas, políticas, econômicas e sociais do seu tempo.

Diante da gritante desigualdade social, por que a fé cristã não tem força para forjar uma sociedade mais justa conforme o sonho de Deus?
A Igreja no Brasil nunca investiu seriamente numa catequese abrangendo a vida toda do cristão, ela é uma catequese sacramentalista. Na queda do regime de cristandade que estamos vivendo temos uma ignorância religiosa. Sobre a Iniciação Cristã, a Assembleia da CNBB voltou a considerar o catecumenato. Precisamos tomar algumas medidas sérias. Se investíssemos na catequese aquilo que investimos em templos e casas, já começaríamos a fazer uma revolução.

Como o senhor gostaria de ver a comunicação na Igreja?
Gostaria que a nossa Igreja acordasse para a presença nos meios de comunicação e valorizasse os nossos meios. Precisamos investir muito mais. "É tempo de investir não em torres de igreja, mas em torres de rádio e televisão", já me dizia um bispo tempos atrás, mas a gente ainda continua investindo em torre de igreja onde as corujas fazem seus ninhos. Eu acho que a CNBB tem que dar alguns passos neste sentido e nós podemos investir mais nos nossos meios.

Como o senhor vê a resistência tão grande, em se fazer cumprir o direito dos Povos Indígenas no Brasil?
A história do Brasil coincide com a história de genocídio dos índios, isto é uma vergonha. Há dois mil anos Jesus Cristo já dizia, que não é possível coexistir o Reino com o dinheiro enquanto objeto de exploração. É tempo de o Brasil criar vergonha e ser realmente uma nação pluricultural, de muitos povos. O governo precisa continuar firme. Parabéns à Raposa Serra do Sol. Medidas semelhantes devem ser adotadas em todos os cantos do Brasil. Nós temos uma dívida social imensa com índios e afrodescendentes, todo o trabalho de Igreja, do Cimi, da Pastoral Afro e de outras entidades a favor da dignidade e da preservação da cultura destes povos, tem que encontrar, na Igreja, uma voz profética. Alguns deputados, senadores e fazendeiros são muito atrasados, porque os direitos dos índios são anteriores.

O Brasil tem ainda outra dívida para com a população afrodescendente. O que pensa das ações afirmativas como cotas para negros nas universidades?

O negro em geral recebeu a independência, mas não no aspecto social e econômico. Foi política e por pressão, inclusive da Inglaterra e de outros países. A conquista social é uma constante. Eu sou favorável a todas as medidas que favoreçam a ascensão dos pobres e negros. Contabilize a população negra no Brasil e conte quantos são os doutores que estão na universidade. Na Igreja também, são 500 anos de evangelização e quantos são os padres e bispos negros no país? A Igreja também tem que se converter neste ponto. Nós estamos dando passos, mas estamos atrasados. Nós não estamos fazendo um favor, estamos saldando uma dívida.

Jaime Carlos Patias, imc, mestre em comunicação e diretor da revista Missões.
Karla Maria, LMC, estudante de jornalismo e colaboradora da revista Missões.

Publicado na edição Nº06 - Julho/Agosto 2009 - Revista Missões.